segunda-feira, 20 de abril de 2020
Covid-19: Como conviver com um infetado em quarentena
Dez perguntas e
respostas para saber como isolar um paciente com Covid-19 em casa e como atuar
para evitar a transmissão da doença.
1 - Como se deve ter uma pessoa em casa em isolamento?
Sempre que possível, para
isolar convenientemente uma pessoa infetada com Covid-19 na sua casa deve
instalar o doente numa divisão individual e manter a porta sempre fechada e o
quarto arejado.
Dentro de casa, deve limitar a
circulação aos locais imprescindíveis e, a menos que se torne inevitável,
mantenha pelo menos dois metros de distância do paciente.
O paciente deve comunicar com
os restantes habitantes da casa apenas por telefone móvel.
Caso tenha necessidade de sair
do quarto, é recomendado o uso de máscara e a correta higienização das mãos com
água e sabão ou um desinfetante à base de álcool.
Também é recomendável não
partilhar a casa de banho. No entanto, caso isso não seja possível, deverá ter
os seguintes cuidados:
·
Toalhas e roupas do infectado devem ser para uso exclusivo do
próprio e colocadas num recipiente isolado depois de utilizadas.
·
O paciente deve ter um caixote do lixo de uso exclusivo, de
tampa de pé ou automática, com um saco de plástico onde deverá depositar todos
os desperdícios, como lenços de papel, toalhitas ou máscaras, que deve ser
fechado hermeticamente e despejado todos os dias.
2 - O que fazer com os desperdícios?
Os desperdícios contaminados
por um infectado com SARS-CoV-2 (comummente denominado de Covid-19) podem
ser perigosos para a segurança do resto das pessoas que convivem na casa. Por
esse motivo, o tratamento correto pode evitar possíveis contágios. É
imprescindível o uso de produtos descartáveis, isolados corretamente e
colocados dentro de um saco de plástico fechado, dentro do lixo.
3 - Como limpar a casa?
O facto de conviver com alguém
infetado torna imprescindível uma limpeza cuidada e exaustiva para evitar novos
contágios. Assim, deve prestar especial atenção às superfícies que o infetado
possa ter tocado.
A pessoa encarregada da limpeza deve usar máscara e luvas. Para desinfetar
deve usar uma solução de água com lixívia (e nunca misturar aqui um lava-tudo).
As superfícies de contacto frequente, como fechaduras e puxadores, mesas,
torneiras, interruptores, telefones e teclados, devem ser limpas diariamente.
A loiça e os utensílios de cozinha devem lavar-se com água quente e
detergente, preferencialmente na máquina de lavar, para alcançar os 60 graus.
A roupa do paciente deve lavar-se em separado com o detergente habitual e a
uma temperatura entre os 60 e os 90 graus. Deve secar completamente, de
preferência ao ar.
4 - Como prevenir o contágio?
Se suspeita que pode estar doente com Covid-19 e tem perguntas sobre como
proteger-se, siga as recomendações da Direção-Geral de Saúde, que são as da
Organização Mundial de Saúde.
Cumpra até à exaustão as medidas de higiene e evite o contacto com pessoas
infectadas.
Lave as mãos com frequência com água e sabão ou com um desinfectante à base
de álcool.
Quando tossir, faça-o para a curva do cotovelo, tapando a boca e o nariz,
ou para um lenço, de referência descartável.
Evite mexer nos olhos, nariz e boca.
Mantenha no mínimo um metro de distância entre si e as restantes pessoas,
dois metros se apresentarem sintomas de constipação ou febre.
Limite ao indispensável os ajuntamentos (cinema, teatro, ginásio,
restaurantes, centros comerciais, transportes públicos, por exemplo).
5 - O que fazer se suspeitar que está infetado?
Se acredita que pode estar infetado por apresentar sintomas compatíveis com
a doença (febre ou cansaço ou tosse seca ou dificuldade respiratória - alguns
pacientes também apresentam dores no corpo ou congestão nasal ou diarreia), por
ter viajado para zonas vermelhas (China, Coreia do Sul, Singapura, Irão ou
Itália) ou por ter estado com alguma pessoa contagiada, siga os seguintes
passos:
1. Isole-se. Não vá
a um médico, a um centro de saúde ou a um hospital;
2. Telefone para linha
Saúde 24 (808 24 24 24);
3. Faça o teste. Se
negativo, caso descartado e siga as recomendações acima. Se positivo, com
sintomas leves, pode ficar a ser tratado em casa, em isolamento, com sintomas
graves será internado e tratado num hospital, em isolamento.
Caso tenha problemas respiratórios graves, solicite sempre atenção médica
ou contacte o 112 ou o 808 24 24 24. Qualquer pessoa hospitalizada devido a
infeção respiratória aguda será submetida ao teste do Covid-19,
independentemente do seu historial.
6 - Em que consiste o teste ao Covid-19?
O teste baseia-se na recolha de amostras do tracto respiratório. Podem ser
realizados num hospital público (ou hospital de campanha), mas também em
laboratórios privados e até no domicílio.
Apenas se o resultado for positivo ou inconclusivo são colhidas novas
amostras e enviadas para o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
7 - O que acontece se o teste revelar positivo?
Cerca de 80% das pessoas recupera da doença sem necessidade de um
tratamento especial. Apenas se os sintomas são graves é recomendado o
internamento hospitalar, caso contrário a recuperação pode ser feita em casa,
em isolamento, com ajuda de medicamentos para aliviar os sintomas.
8 - Como sei que estou curado?
Volta a fazer o teste, desta vez duas amostras respiratórias com uma
diferença de, pelo menos, 24 horas.
9 - Posso voltar a ficar infetado?
Não existem evidências científicas que demonstrem que um pessoa que tenha
sido contagiada com SARS-CoV-2 (comummente denominado de Covid-19)
possa voltar a ficar infetada uma vez superada a doença.
10 - Recebo salário se ficar em casa?
Se estiver de quarentena, receberá por esses 14 dias (tempo de isolamento).
Para lá desse tempo, receberá de acordo com o definido na lei em matéria de
baixas.
No caso de ter de ficar em casa a acompanhar filhos, e se estes tiverem até
12 anos de idade, receberá 66% da remuneração base no caso de ser trabalhador
por conta de outrem. Desse valor, metade ficará a cargo do empregador, a outra
metade a cargo da Segurança Social. O governo prometeu ainda que será dado um
"apoio financeiro excepcional aos trabalhadores independentes" na
mesma situação, "no valor de um terço da remuneração média".
Etiquetas:
assintomáticos,
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sábado, 18 de abril de 2020
Covid-19: Cinco meses depois, o que sabem agora os cientistas sobre o coronavírus
Desde
dezembro que cientistas e médicos de todo o mundo reúnem esforços para combater
o novo coronavírus. Cinco meses depois e com perto de 2 milhões de infetados, é
praticamente unânime que só uma vacina poderá pôr fim à doença. Mas, o que a
ciência sabe nesta altura será suficiente para travar a pandemia?
Nunca em tempo algum a ciência se uniu como agora para
apresentar uma resposta global desta natureza. E, embora as fronteiras entre os
países se mantenham fechadas, a verdade é que a colaboração internacional entre
cientistas tem rompido essas barreiras físicas. Praticamente, todas as outras
investigações estão nesta altura paradas devido ao distanciamento social e aos
bloqueios que naturalmente se impõem durante o teletrabalho. Hospitais,
laboratórios, e bancos de dados genéticos multiplicam diariamente os seus
esforços para apresentar rapidamente uma resposta que é cada vez evidente que é
urgente.
É certo que esta colaboração científica e médica não é nova. No
entanto, a Covid-19 fez soar os alarmes dentro da comunidade científica como
nenhum outro surto o tinha feito antes. Isso reflete não apenas a virulência da
doença, como as reais dimensões do problema que, ao contrário de muitos outros
na história, não está apenas circunscrito a uma zona ou até região empobrecida
do globo. Trata-se efetivamente de uma ameaça à escala global.
Esta poderá ser uma conquista extraordinária para a ciência. No
entanto, impõe-se uma outra questão: será que as descobertas científicas sobre
o novo coronavírus são nesta altura suficientes para terminar com esta
pandemia?
De onde provém e como surgiram os primeiros casos de
infeção em humanos?
É quase certo que o vírus responsável pela Covid-19 (Sars-CoV-2)
tem origem nos morcegos. No entanto, as dúvidas sobre o animal que terá
infetado os primeiros seres humanos mantêm-se, embora os pangolins sejam a
hipótese que reúne maior consenso, apesar de não serem portadores naturais do
vírus e, por isso, terem alegadamente atuado como agentes intermediários do
contágio.
Segundo as últimas pesquisas, os morcegos são capazes de emitir
uma feroz resposta de imunidade contra o vírus, o que obriga o Sars-CoV-2 a
replicar-se rapidamente pelo organismo a fim de superar a eficácia das defesas
imunológicas desta espécie. Isso faz dos morcegos um reservatório natural da
doença e eleva a ameaça de transmissão. No entanto, o grande problema está no
sistema imunológico dos mamíferos (incluindo a espécie humana) que é incapaz de
apresentar uma resposta imunitária tão eficaz como a dos morcegos.
Como se propaga o novo coronavírus?
O contágio ocorre sempre a partir do contacto direto com
partículas de ar ou saliva infetadas. Uma vez inaladas, essas partículas acedem
facilmente às células das vias respiratórias que apresentam um grande número
de recetores (ACE-2) responsáveis por deixar o vírus entrar no
nosso organismo. Segundo os últimos estudos, o Sars-CoV-2 possui
na sua superfície uma proteína (spike) que bloqueia esses recetores (ACE-2),
permitindo ao vírus reproduzir-se rapidamente. Surge então a resposta
imunológica do nosso corpo que logo produz anticorpos contra o novo coronavírus
e, na grande maioria dos casos, interrompe este processo. É precisamente o caso
dos doentes assintomáticos – pacientes infetados sem sintomas.
No entanto, porque há pessoas a morrer? Em alguns casos,
nomeadamente nos grupos de risco (idosos, diabéticos, asmáticos ou hipertensos)
o vírus pode causar problemas graves, sobretudo depois de atingir o sistema
respiratório e infetar os plumões – ricos em células com recetores ACE-2.
Muitas dessas células serão destruídas e, nesse caso, os pacientes tem quer
receber tratamento nas unidades de cuidados intensivos (UCI).
Pior ainda são os casos em que o sistema imunológico entra
verdadeiramente em ação, direcionando para os plumões células antivirais – num
processo conhecido como tempestade de citocinas – que acabam por resultar numa
inflamação. Este problema pode ficar fora do controlo se o sistema imunológico não
abrandar a sua resposta. Nesse caso, pode mesmo levar à morte dos doentes. Os
investigadores desconhecem ainda o motivo que conduz o sistema imunológico
humano a responder nesta medida (com uma tempestade de citocinas), no entanto,
acreditam que a vulnerabilidade de algumas versões dos recetores celulares
ACE-2 faça aumentar a resposta imunitária.
Se formos infetados estamos protegidos para o resto
da vida?
As últimas análise a doentes infetados com a Covid-19 indicam
que existe um nível razoavelmente alto de anticorpos neutralizantes presentes
na corrente sanguínea. É certo, por isso, que os pacientes infetados tenham
proteção contra futuras infeções, no entanto isso não significa que estes
doentes sejam imunes à doença para sempre. Aliás, os virologistas acreditam
mesmo que a imunidade contra o novo coronavírus tem uma validade relativamente
curta, no máximo de dois anos, o que corresponderia a um período de tempo
semelhante aos outros coronavírus como os responsáveis pela SARS (Síndrome
Respiratória Aguda Grave) e pela MERS (Síndrome Respiratória do Médio Oriente).
A virulência da Covid-19 pode ter-se alterado?
Nesta altura, as opiniões estão divididas. Alguns investigadores
acreditam que o novo coronavírus tornou-se menos mortal. Outros argumentam que poderá
ter sofrido mutações que o tornaram mais letal. Uma coisa é unânime para todos,
só o desenvolvimento de uma vacina poderá terminar com a pandemia da Covid-19.
Quando chegará a tão aguardada vacina?
Na última semana, a revista Nature revelou que neste momento estão em curso 78
projetos para uma vacina contra o novo coronavírus e
outros 37 em desenvolvimento. Entre estes projetos está o programa lançado pela
Universidade de Oxford, nos EUA, que se encontra em fase de testes, duas
empresas norte-americanas de biotecnologia e três laboratórios científicos na
China. Os cientistas acreditam que ainda este ano, muitos projetos passarão à
fase de testes em humanos.
Esta resposta notável da comunidade científica mundial cria
assim fortes esperanças de que a vacina contra a Covid-19 pode ser desenvolvida
num prazo mais curto do que aquele que estava previsto. No entanto, deve ser
tido em conta que este tipo de processos envolvem estudos rigorosos de
segurança e eficácia que por vezes prolongam-se durante meses ou até anos.
in Visão Saúde – 18/04/2020
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