sábado, 18 de abril de 2020

Covid-19: Cinco meses depois, o que sabem agora os cientistas sobre o coronavírus


Desde dezembro que cientistas e médicos de todo o mundo reúnem esforços para combater o novo coronavírus. Cinco meses depois e com perto de 2 milhões de infetados, é praticamente unânime que só uma vacina poderá pôr fim à doença. Mas, o que a ciência sabe nesta altura será suficiente para travar a pandemia?

Nunca em tempo algum a ciência se uniu como agora para apresentar uma resposta global desta natureza. E, embora as fronteiras entre os países se mantenham fechadas, a verdade é que a colaboração internacional entre cientistas tem rompido essas barreiras físicas. Praticamente, todas as outras investigações estão nesta altura paradas devido ao distanciamento social e aos bloqueios que naturalmente se impõem durante o teletrabalho. Hospitais, laboratórios, e bancos de dados genéticos multiplicam diariamente os seus esforços para apresentar rapidamente uma resposta que é cada vez evidente que é urgente.

É certo que esta colaboração científica e médica não é nova. No entanto, a Covid-19 fez soar os alarmes dentro da comunidade científica como nenhum outro surto o tinha feito antes. Isso reflete não apenas a virulência da doença, como as reais dimensões do problema que, ao contrário de muitos outros na história, não está apenas circunscrito a uma zona ou até região empobrecida do globo. Trata-se efetivamente de uma ameaça à escala global.

Esta poderá ser uma conquista extraordinária para a ciência. No entanto, impõe-se uma outra questão: será que as descobertas científicas sobre o novo coronavírus são nesta altura  suficientes para terminar com esta pandemia?

De onde provém e como surgiram os primeiros casos de infeção em humanos?
É quase certo que o vírus responsável pela Covid-19 (Sars-CoV-2) tem origem nos morcegos. No entanto, as dúvidas sobre o animal que terá infetado os primeiros seres humanos mantêm-se, embora os pangolins sejam a hipótese que reúne maior consenso, apesar de não serem portadores naturais do vírus e, por isso, terem alegadamente atuado como agentes intermediários do contágio.

Segundo as últimas pesquisas, os morcegos são capazes de emitir uma feroz resposta de imunidade contra o vírus, o que obriga o Sars-CoV-2 a replicar-se rapidamente pelo organismo a fim de superar a eficácia das defesas imunológicas desta espécie. Isso faz dos morcegos um reservatório natural da doença e eleva a ameaça de transmissão. No entanto, o grande problema está no sistema imunológico dos mamíferos (incluindo a espécie humana) que é incapaz de apresentar uma resposta imunitária tão eficaz como a dos morcegos.

Como se propaga o novo coronavírus?
O contágio ocorre sempre a partir do contacto direto com partículas de ar ou saliva infetadas. Uma vez inaladas, essas partículas acedem facilmente às células das vias respiratórias que apresentam um grande número de recetores (ACE-2) responsáveis por deixar o vírus entrar no nosso organismo. Segundo os últimos estudos, o Sars-CoV-2 possui na sua superfície uma proteína (spike) que bloqueia esses recetores (ACE-2), permitindo ao vírus reproduzir-se rapidamente. Surge então a resposta imunológica do nosso corpo que logo produz anticorpos contra o novo coronavírus e, na grande maioria dos casos, interrompe este processo. É precisamente o caso dos doentes assintomáticos – pacientes infetados sem sintomas.

No entanto, porque há pessoas a morrer? Em alguns casos, nomeadamente nos grupos de risco (idosos, diabéticos, asmáticos ou hipertensos) o vírus pode causar problemas graves, sobretudo depois de atingir o sistema respiratório e infetar os plumões – ricos em células com recetores ACE-2. Muitas dessas células serão destruídas e, nesse caso, os pacientes tem quer receber tratamento nas unidades de cuidados intensivos (UCI).

Pior ainda são os casos em que o sistema imunológico entra verdadeiramente em ação, direcionando para os plumões células antivirais – num processo conhecido como tempestade de citocinas – que acabam por resultar numa inflamação. Este problema pode ficar fora do controlo se o sistema imunológico não abrandar a sua resposta. Nesse caso, pode mesmo levar à morte dos doentes. Os investigadores desconhecem ainda o motivo que conduz o sistema imunológico humano a responder nesta medida (com uma tempestade de citocinas), no entanto, acreditam que a vulnerabilidade de algumas versões dos recetores celulares ACE-2 faça aumentar a resposta imunitária.

Se formos infetados estamos protegidos para o resto da vida?
As últimas análise a doentes infetados com a Covid-19 indicam que existe um nível razoavelmente alto de anticorpos neutralizantes presentes na corrente sanguínea. É certo, por isso, que os pacientes infetados tenham proteção contra futuras infeções, no entanto isso não significa que estes doentes sejam imunes à doença para sempre. Aliás, os virologistas acreditam mesmo que a imunidade contra o novo coronavírus tem uma validade relativamente curta, no máximo de dois anos, o que corresponderia a um período de tempo semelhante aos outros coronavírus como os responsáveis pela SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e pela MERS (Síndrome Respiratória do Médio Oriente).

A virulência da Covid-19 pode ter-se alterado?
Nesta altura, as opiniões estão divididas. Alguns investigadores acreditam que o novo coronavírus tornou-se menos mortal. Outros argumentam que poderá ter sofrido mutações que o tornaram mais letal. Uma coisa é unânime para todos, só o desenvolvimento de uma vacina poderá terminar com a pandemia da Covid-19.

Quando chegará a tão aguardada vacina?
Na última semana, a revista Nature revelou que neste momento estão em curso 78 projetos para uma vacina contra o novo coronavírus e outros 37 em desenvolvimento. Entre estes projetos está o programa lançado pela Universidade de Oxford, nos EUA, que se encontra em fase de testes, duas empresas norte-americanas de biotecnologia e três laboratórios científicos na China. Os cientistas acreditam que ainda este ano, muitos projetos passarão à fase de testes em humanos.

Esta resposta notável da comunidade científica mundial cria assim fortes esperanças de que a vacina contra a Covid-19 pode ser desenvolvida num prazo mais curto do que aquele que estava previsto. No entanto, deve ser tido em conta que este tipo de processos envolvem estudos rigorosos de segurança e eficácia que por vezes prolongam-se durante meses ou até anos.

in Visão Saúde – 18/04/2020

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